9 de mar. de 2010

1ª. Livres associações

Um conto:
Um conto que li óntem,"A rã", de Manoel de Barros, faz parte de um livro que ganhei chamado "Memórias inventadas". É uma publicação esquisita: os contos vem dentro de uma caixa, cada conto numa única folha paisagem dobrada em dois, resultanto numa espécie de sub-livrinho. Na capa deste sub-livrinho o título do conto centralizado e abaixo o número que esse conto representa dentro do conjunto, abre-se o sub-livrinho e se têm na terceira página o conto de geralmente umas 20 linhas, e na segunda página umas iluminuras bonitas da Martha Barros, a filha do autor. Todos os contos empilhados são agrupados por uma outra folha paisagem dobrada que os envolve com o nome do livro, tudo está solto, você pode ler cada conto como se fosse um livro autônomo.

Manoel de Barros é sagitariano. Nesse conjunto de contos ele revisa as coisas do seu cotidiano, no quintal da sua casa, da vendinha, o seu avô, despertanto delas associações, retira informações e transforma os objetos em universos.

"A rã" [conto XI]
O homem estava sentado sobre uma lata na beira de uma garça. O rio Amazonas passavaao lado. Mas eu queria insistir no caso da rã. Não seja este um ensaio sobre o orgulho da rã. Porque me contou aquela uma que ela comandava o rio Amazonas. Falava, em tom sério, que o rio passava nas margens dela. Ora, o que se sabe, pelo bom senso, é que são as rãs que vivem nas margens dos rios. Mas aquela rã contou que estava estabelecida ali desde o começo do mundo. Bem antes do rio fazer leito para passar. E que, portanto, ela tinha a importância de chegar primeiro. Que ela era por todos os motivos primordial. E quem se fez primordial tem o condão das primazias. Portanto era o rio Amazonas que passava por ela . Então, a partir desse raciocínio, ela, a rã, tinha mais importância. Sendo que a importância de uma coisa ou de um ser não á tirada pelo tamanho ou volume do ser, mas pela permanência do ser no lugar. Pela primazia. Por esse viés do primordial é possível dizer então que a pedra é mais importante do que o rio Amazonas. Por esse viés, com certeza, a rã não é uma creatura orgulhosa. Dou federação a ela. Assim como doufederação à garça quem teve um homem sentado na beira dela. As garças têm primazia.

Manoel de Barros

Uma imagem:
Nesses dias pensei que a leveza pode ser conferida aos fatos levantando-los da realidade. Abaixo uma imagem de uma escultura do artista Daniel Graffin, escultura de vento.



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